quarta-feira, 18 de maio de 2011

Brasil e Brasileiros...

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    Há algum tempo venho buscando algum fundamento para entender o que desmotiva o Brasileiro de uma forma generalizada a não valorizar sua própria cultura. “Tudo que é de fora é melhor", "isto é melhor porque é importado”, esta é a idéia do brasileiro comum.
    Quantos artistas precisaram batalhar para demonstrar seu talento fora de seu País, tendo que alcançar fama do outro lado do mundo para seus compatriotas notar sua existência. Não é diferente na capoeira, mestres morrem e só assim são reconhecidos. No exterior é possível sobreviver ministrando aulas de capoeira, ensinando danças genuínamente brasileiras, há reconhecimento. Aqui no Brasil, não é impossível, mas basta olhar ao nosso redor que será possível notar o quão é difícil conseguir o reconhecimento de um bom profissional de capoeira.
    Hoje ao ler um texto conheci uma teoria criada pelo escritor Nelson Rodrigues denominada complexo de vira-lata e venho dividir com vocês. Esta teoria consiste justamente na valorização do que vem de fora, uma sensação de inferioridade, de nós mesmos nos subjugarmos como piores.  E quando somos intitulados pelos outros países “ O País do futebol ” – exemplo mais utilizado - aí sim, acreditamos que somos bons e passamos este conceito a diante.
    Acredito que a valorização da nossa cultura esteja contaminada com o referido complexo. Certo dia em uma telenovela mostrou a resistência contra o samba, no inicio deste mês vivenciei uma tentativa de impedir que uma roda de capoeira acontecesse em local público, em ambos os casos na ficção e na realidade, é gritante o desapreço do próprio brasileiro para com sua própria cultura.
    O Brasil deve acreditar em si, em seu potencial, defender sua bandeira. Ter fé em sua própria nação. Valorizar enquanto a cultura é nossa. Porque depois que nossa cultura morrer, assim como os mestres antigos de capoeira que aos poucos estão nos deixando, não adianta querer reverter o irreversível.  O bom é o que esta ao nosso alcance, é o poder, o talento e a alegria do brasileiro que não desiste nunca.

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Você Sabia?

:: Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!  (por Júlia Albernaz)

A frase título deste texto sempre me intrigou! Sempre quis saber o seu porque, uma vez que, num primeiro momento, ao ler a frase, tendemos a interpretar a palavra mandinga como “feitiço, despacho, mau-olhado, ebó”, como bem define o grande folclorista Luis da Câmara Cascudo em seu “Dicionário do folclore brasileiro”. Se fôssemos nos basear nesse significado, porém, o mais lógico seria pensarmos que, se uma pessoa não pode com mandinga, ou seja, com feitiço, é melhor que ela carregue um patuá, para se proteger, certo?

Na frase em questão, entretanto, o significado de mandinga é outro, a palavra se refere ao indivíduo de um dos maiores grupos étnicos da África ocidental, os Mandingas ou Malinke. Por sua proximidade geográfica com os árabes, os mandingas acabaram se tornando muçulmanos e aprendendo a se comunicar em árabe, dominando fala, leitura e escrita. Eram, ainda, muito bons em matemática.

Com o desenvolvimento do tráfico negreiro, grande parte dos mandingas veio parar no continente americano. Nas Américas, por dominarem o árabe e serem melhores em matemática do que os brancos, os mandingas passaram a ser vistos como feiticeiros. Afinal, na cabeça dos brancos, como poderiam simples escravos dominar a língua de outra cultura e ainda possuírem conhecimento matemático? Só podia ser algo sobrenatural! Assim, mandinga virou sinônimo de feitiço. Por suas habilidades e cultura, os mandingas passarem a ter privilégios em relação aos outros negros. Podiam, por exemplo, carregar trechos do Alcorão, livro sagrado da religião muçulmana, guardados em pequenos invólucros de pele de animal, pendurados no pescoço. Esses invólucros contendo trechos do Alcorão eram chamados de patuá e eram marca registrada dos mandingas.

Como os mandingas se tornaram muçulmanos, tinham Alá como Deus e Maomé como profeta, não aceitando quaisquer outros tipos de crença. Assim, os escravos que cultuavam os orixás eram vistos como rivais pelos mandingas. Os senhores de escravos, para estimular essa rivalidade entre os negros, davam aos mandingas cargos de confiança, como o de capitão do mato. Assim, muitas vezes, os mandingas eram responsáveis por capturarem os negros fujões.

Quando um negro tentava fugir, além de se preparar para ter que utilizar a capoeira para se defender, pendurava um patuá em seu pescoço, para que, quando fosse abordado por um mandinga, ele pensasse se tratar de um dos seus e não o perseguisse.

Os mandingas, entretanto, ao se depararem com um suposto negro fujão, tinham o hábito de abordá-lo em língua árabe. Assim, se o negro fujão, mesmo “disfarçado” de mandinga devido ao uso do patuá, não soubesse responder em árabe, seria identificado e capturado pelo mandinga, sendo, ainda, vítima de sua fúria. 

Assim nasceu a expressão: Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!

Fontes:

CASCUDO, Luís da Camara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 5ª ed., Itatiaia, Belo Horizonte, 1984.

LIMA, Mano. Dicionário de capoeira. 3ª Ed., Conhecimento Editora, Brasília, 2007.

TRINDADE, Diamantino Fernandes; LINARES, Ronaldo Antônio. Iniciação à Umbanda vol. 2, Editora Madras, 2008.
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